Por que são únicos os cursos da EC.ON?

Os cursos da Escola de Escrita Criativa Online (EC.ON) têm características únicas e são, por isso mesmo, diferentes. Tal fica a dever-se, por um lado, a uma ideia projectiva da aprendizagem e, por outro lado, ao método seguido que é de carácter qualitativo, personalizado, assíncrono e livre:

A) Qualitativo, porque convidamos escritores a trabalhar as suas experiências, aptidões e saberes oficinais específicos com os nossos formandos, num tipo de partilha muito singularizado que dificilmente poderia ter lugar em sistemas clássicos de ensino ou em realidades de tipo grupal.

B) Personalizado, porque o escritor, na sua função docente, e o formando, na sua função discente, trabalham a sós, em círculo privado, através de cronogramas e programas predefinidos que, no entanto, se ajustam maleavelmente a cada caso concreto, tornando única a partilha oficinal (esta agilidade começa logo no início, pois o formando paga a sua propina e começa imediatamente o seu curso).

C) Assíncrono, porque as tarefas que se colocam em cada semana de curso são interpretadas pelo escritor e pelo formando, tendo em conta o ritmo criativo e a incorporação individualizada de competências e não a rigidez temporal ou a compulsão norteada por objectivos.

D) Livre, porque o cronograma proposto no início dos cursos é uma simples proposta de trabalho que cada formando molda em função de circunstâncias pessoais e profissionais, adequando assim a celeridade e a complexidade da vida actual à sua opção muito pessoal de valorização expressiva.

Na EC.ON, a partilha de competências é progressiva e cumulativa, fazendo-se sentir através de um processo crítico de grande proximidade. No final, os resultados são evidentes e a experiência, única no modo como desperta potencialidades, converte-se num novo ponto de partida para ‘dizer o mundo’.

Na EC.ON acredita-se que o ensino do futuro se baseará num regresso à antiga individuação ‘mestre-formando’. A tecnologia permitirá cada vez mais que, em complementaridade com as realidades massificadas, novas entidades personalizadas operem e cooperem em transferências e partilhas de saber. A democraticidade dos saberes terá nesta complementaridade o seu grande incentivo.

Nas futuras sociedades do conhecimento, ‘aprender a aprender’ significará, cada vez mais, desafiar a própria expressão (ficcional, comunicacional ou do autoconhecimento) a optimizar e a potenciar ao máximo as suas competências. A EC.ON situa-se neste ponto de partida que liga os recantos do nosso presente aos grandes desafios de amanhã.

 

Da Escrita Criativa

1-Escrita criativa: funcionalidades
Todos os processos de escrita implicam funcionalidades sobretudo de três ordens: a ordem interpelativa (meramente transitiva e instrumental), a ordem estética (aberta ao poder metafórico, combinatório e rítmico) e a ordem semiótica (ligada à capacidade metatextual).

2-Escrita criativa: um laboratório
Num laboratório, tal como acontece nos universos da química, é possível isolar cada uma destas três ordens e testar-lhes os limites. Uma tal prática oficinal pode e deve ser cooperativa (ou colaborativa), visando três objectivos claros, nomeadamente: desenvolver potencialidades, incentivar a inventividade e alimentar a expressão própria.

3-Escrita criativa: plasticidade
Ao percorrer estas três vias objectivas, a escrita criativa promove um saber associado ao domínio da plasticidade da linguagem, enquanto “expressão elementar e cruzada de certas posições de sentido” (a definição é de Ugo Volli). Deste modo, o desafio essencial da escrita criativa passará por entender a linguagem como uma plasticina sempre moldável e, portanto, capaz de optimizar cumulativa e processualmente a expressão.

4-Escrita criativa: o primado do sentido
Desde os famosos “Turns” do século passado (que ligam o segundo Wittgenstein a Austin ou a Grice) que se sabe que a significação depende bem mais da flutuação pragmática do sentido do que de critérios de verdade. Esta transição que, nas teorias da linguagem, teve lugar entre o fim dos anos 40 e os anos 60 do século XX, foi pioneiramente sentida na prática artística (entre os realismos muito ancorados referencialmente e as desagregações do sentido praticadas pelas vanguardas, sobretudo depois da Primeira Grande Guerra Mundial).

5-Escrita criativa: autonomia e tensão
Esta ininterrupta disputa do sentido reflecte ainda um outro dado: a autonomia do agir humano face ao agir das linguagens e vice-versa. É por isso que a expressão – as mensagens que trocamos – constitui sempre o resultado de uma verdadeira tensão entre ambos os agires; o nosso (marcado pela enunciação e pela intencionalidade comunicacional) e agir o das linguagens (marcada pela sua genealogia e, também, pela suas regras e devires próprios).

6-Escrita criativa: prática de desmontagem
Muitas correntes de pensamento do fim do século passado (o último Barthes, Deleuze, o chamado ‘mundo pós’) espelharam esta convicção ao caracterizarem a linguagem como um corpo livre, aberto e verdadeiramente inorgânico. Estas correntes – que podiam ser caracterizadas como ‘correntes da desmontagem’ – deram corpo à percepção, que ainda hoje temos, de que aquilo que criamos (mensagens ou objectos) e de que aquilo por que nos guiamos (códigos ou normativas) têm inevitavelmente um carácter acentrado (ou seja, não estruturado de modo fixo), efémero (sem finalidades estritas) e plástico (baseado num vaivém de efeitos de sentido).

7-Escrita criativa: optimizar a expressão
O projecto da Escola de Escrita Criativa Online (EC.ON) existe a partir destas pressuposições de grande abertura e de plasticidade. Sabemos que não existe uma escrita perfeita ou ideal. O que é bom e nos obriga a encontrar a versatilidade e o equilíbrio sempre instável que a linguagem coloca à nossa disposição. Se não existe uma escrita ideal, é, por outro lado, um facto que é possível trabalhar laboratorialmente um conjunto de ferramentas que podem e devem ser sempre optimizadas na sua aplicação.

8-Escrita criativa: proximidade crítica
O uso da linguagem é um gesto fundador do ser. A cada inscrição, entendida como um processo sempre inacabado, é possível fazer corresponder alternativas e oficinas sem fim. Numa postura cooperativa e laboratorial, baseada numa regência crítica de proximidade, esta correspondência acabará por recriar potencialidades, despertar novos modos de dizer e alimentar a singularidade individualizada. É este o desígnio primeiro da escrita criativa. Quer nos primeiros cursos de índole literária (do Nível Introdutório aos Seminários Ficcionais), quer nas esferas técnicas e profissionais (publicidade, guionismo, jornalismo, etc.), quer nas oficinas dirigidas a públicos concretos (caso da escrita criativa para crianças, por exemplo).

Destacamos…

As duas versões dos Seminários de Escrita Ficcional
Após a frequência dos Níveis Introdutório e Avançado, os Seminários de Escrita Ficcionaltêm como objectivo a aplicação de todas as ferramentas e dispositivos práticos antes incorporados no plano da escrita ficcional de fôlego. o Seminário de Escrita Ficcional – I/Versão A, propõe um processo de rescrita, através da adaptação de contos famosos da literatura portuguesa. O laboratório centra-se na rescrita de Singularidades de uma Rapariga Loura de Eça de Queirós (primeira parte – primeiras sete semanas) e de O Barão de Branquinho da Fonseca (segunda parte – últimas cinco semanas).O Seminário de Escrita Ficcional – I / Versão B destina-se, por sua vez, a todos os formandos que, após a conclusão do Seminário de Escrita Ficcional – I, baseado na adaptação por rescrita de Singularidades de uma Rapariga Loura de Eça de Queirós e de O Barão de Branquinho da Fonseca, desejam continuar a exercitar os mesmos processos criativos de rescrita. A Versão B propõe o mesmo método e o mesmo tipo de objectivos, embora com novos contos, topics e autores. A adaptação por rescrita a ser trabalhada no Seminário de Escrita Ficcional – I / Versão B parte de dois contos emblemáticos: Famílias Desavindas de Mário de Carvalho (primeira parte/ seis semanas) e Uma simples flor nos teus cabelos claros de José Cardoso Pires (segunda parte/ seis semanas).

Diferenças entre o Nível Introdutório e o Nível Avançado
O curso de Nível Introdutório trabalha três níveis complementares da expressão escrita: a descrição (representação do espaço/atmosferas), a narração (representação do tempo) e a poética (representação do indizível/inomeável). Além da oficina ligada a estes três alicerces essenciais da escrita, o curso visa cumulativamente aprofundar diversas potencialidades da língua portuguesa, optimizar a comunicação individual e incorporar instrumentos teórico-práticos de ligação entre as áreas pragmáticas estudadas (descrição/ narração) e a expressão estética.

O curso de Nível Avançado reata aspectos abordados no Curso de Nível Introdutório e aprofunda novas dimensões que se prendem com o domínio dos processos de escrita e, portanto, com a engenharia ficcional (nomeadamente a relação fábula-enredo, a criação de ‘plot’, a gestão de sequências, as multiplicidades narrativas, oficinas de imagem, laboratórios de humor, o duplo clímax, etc.), tendo em vista um programa específico de escrita que ocupará as últimas quatro semanas do curso